Transtorno do Espectro Autista: Como suspeitar?

O autismo, atualmente denominado Transtorno do Espectro Autista (TEA), é um transtorno do neurodesenvolvimento que pode ser diagnosticado a qualquer momento da vida. Porém, seus primeiros sinais aparecem antes dos 3 primeiros anos de idade. 

Ele é chamado de Espectro Autista porque cada pessoa afetada apresenta uma ampla variedade de sinais e sintomas, com diferentes níveis de gravidade. Entretanto, em todos os casos, há dois impactos presentes, que formam a chamada díade do autismo: problemas na comunicação social e comportamento repetitivo ou restrito. O TEA é um transtorno permanente, não havendo cura, ainda que a intervenção precoce possa alterar o prognóstico e suavizar os sintomas. 

Nos últimos anos, as estimativas da prevalência do autismo têm aumentado dramaticamente. Esse aumento na prevalência do TEA é, em grande parte, um resultado da melhoria do diagnóstico: como hoje o conhecimento é mais facilmente disseminado, os pais têm mais acesso aos marcos do desenvolvimento e, assim, uma maior probabilidade de perceber se a criança está fora do esperado para a sua idade. Com isso, certamente há um aumento do número de casos detectados, mas ainda assim há muitas crianças sem diagnóstico, que perdem uma importante chance de receberem tratamento adequado dentro do que chamamos de janela de oportunidade. A prevalência do TEA hoje é de 1 pessoa a cada 45, tornando-se o transtorno do desenvolvimento mais frequente atualmente, com alto impacto pessoal, familiar e social.

O TEA manifesta-se em indivíduos de diversas etnias ou raças e em todos os grupos socioeconômicos. Sua prevalência é maior em meninos do que em meninas, na proporção de cerca de 4:1.

Estima-se que um terço dos pacientes com TEA também apresentem deficiência intelectual. O TEA é também frequentemente associado a outros transtornos psiquiátricos (como transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, depressão e ansiedade) e também a outras condições médicas, como epilepsia e transtornos genéticos. Da mesma forma, dificuldades motoras são relativamente comuns entre indivíduos com TEA, embora sua presença não seja necessária para o diagnóstico.

O TEA é causado por uma combinação de fatores genéticos e fatores ambientais. Apesar de claramente importantes, os fatores genéticos não atuam sozinhos, sendo sua ação influenciada ou catalisada por fatores de risco ambientais, incluindo, entre outros, a idade avançada dos pais no momento da concepção, a exposição a certas medicações durante o período pré-natal, o nascimento prematuro e o baixo peso ao nascer.

O TEA tem origem nos primeiros anos de vida, mas sua trajetória inicial não é uniforme. Em algumas crianças, os sintomas são aparentes logo após o nascimento. Na maioria dos casos, no entanto, os sintomas do TEA só são consistentemente identificados entre os 12 e 24 meses de idade.

Não obstante essa evidência, o diagnóstico do TEA ocorre, em média, aos 4 ou 5 anos de idade no Brasil. Essa situação é lamentável, tendo em vista que a intervenção precoce está associada a ganhos significativos no funcionamento cognitivo e adaptativo da criança. Alguns estudiosos têm até mesmo sugerido que a intervenção precoce e intensiva tem o potencial de impedir a manifestação completa do TEA, por coincidir com um período do desenvolvimento em que o cérebro é altamente plástico e maleável. Quanto mais precoce for o diagnóstico então, mais rápido o tratamento poderá ser iniciado e os resultados serão melhores, uma vez que as janelas de oportunidades estão abertas nos primeiros anos de vida e a velocidade de formação de conexões cerebrais e neuroplasticidade estão na fase de maior desenvolvimento no cérebro.

A Academia Americana de Pediatria (AAP) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), orientam que toda criança entre 18 e 24 meses de idade seja triada para o TEA, mesmo que não tenha sinais clínicos claros e evidentes deste diagnóstico ou de outros atrasos do desenvolvimento. Nas crianças com suspeita, a triagem já pode ser utilizada a partir de 1 ano e 4 meses, e pode identificar a grande maioria das crianças com TEA.

Na suspeita do diagnóstico, quando falamos de comunicação e interação social, o sintoma mais percebido pelos pais é o atraso na fala. Entretanto, há muitos outros que são importantes, como por exemplo, a limitação da reciprocidade nas interações sociais. Crianças em geral adoram brincar, fazer amizades, trocar... O autismo afeta essa capacidade de interagir e manter relacionamentos com outras crianças. Outro ponto que os pais devem prestar atenção é na linguagem não verbal. O choro é um ótimo exemplo. Bebês que não choram e mostram apatia devem ser avaliados!

Na outra ponta da díade do autismo, temos os padrões restritos de comportamento ou interesses. Ao todo há quatro critérios de diagnóstico, mas bastam dois para suspeitar de um quadro de autismo. Além dos outros já citados, um deles é a estereotipia. Bater os pés, pular, balançar o corpo, girar objetos, emitir sons repetitivos, chacoalhar as mãos, entre outros, são movimentos autorregulatórios feitos para buscar sensação de bem-estar ou ainda para aliviar o estresse. Esse, sem dúvida, é um sinal importante que deve ser avaliado por um especialista.

Embora os sintomas já possam ser notados nos primeiros anos de vida, alguns podem ficar mais evidentes na medida em que a criança tiver uma maior demanda para exercer suas habilidades sociais. Além disso, por exemplo, pode haver a regressão do desenvolvimento. Isso é muito comum na fala por exemplo, a criança simplesmente pode parar de falar.

 

A seguir é apresentada uma lista dos principais sinais de alerta para Transtorno do Espectro Autista de acordo com a idade, que pode ser útil para os papais e mamães ficarem atentos desde cedo:

 

São sinais sugestivos no primeiro ano de vida:

  • não apresentar sorriso social até os 6 meses de idade ou apresentar baixa frequência de sorriso e reciprocidade social, bem como restrito engajamento social (pouca iniciativa e disponibilidade de resposta);
  • não se voltar para sons, ruídos e vozes no ambiente; 
  • apresentar baixo contato ocular e deficiência no olhar sustentado (O bebê não olha nos olhos da mãe durante a amamentação); 
  • demonstrar maior interesse por objetos do que por pessoas; 
  • não seguir objetos e pessoas próximos em movimento; 
  • não aceitar o toque (apresentar irritabilidade no colo); 
  • não responder ao nome; 
  • apresentar imitação pobre (O bebê não imita ações humanas como sorrir, bocejar ou mostrar a língua); 
  • apresentar incômodo incomum com sons altos; 
  • ter distúrbio de sono moderado ou grave; 
  • indiferença com a ausência dos pais ou cuidadores e ausência da ansiedade de separação a partir dos 9 meses;
  • atraso no aparecimento da linguagem como balbucio aos nove meses, nenhuma palavra pronunciada até os dezesseis meses, não formar frases até os dois anos; 
  • o bebê não estende os braços para pedir colo e não dá “tchauzinho”.
  • ausência de resposta ao chamamento pelo seu nome até os 9 meses; 
  • não apontar aos 12 meses;
  • perder habilidades já adquiridas, como balbucio, contato ocular ou sorriso social.

 

Sinais sugestivos no segundo ano de vida:

  • comportamentos repetitivos tanto com o corpo (como bater os pés ou mãos, pular, balançar o corpo) como com objetos, sendo estes utilizados de modo nada comum, como exemplo enfileirando sistematicamente os carrinhos, em detrimento do uso versátil e criativo que observamos em crianças sem este tipo de problema;
  • não compartilhamento de objetos e não participação em brincadeiras coletivas; 
  • mantém ainda um baixo contato visual;
  • aumento da irritabilidade e de uma dificuldade maior que o habitual em regular as emoções negativas;
  • a criança costuma não indicar desejos e quando o faz, usa a mão de terceiros para apontar;
  • tem dificuldade em prestar atenção quando lhe apontam um objeto;
  • não atende quando lhe chamam;
  • não consegue demonstrar as emoções através de gestos e expressões faciais;
  • a criança é vista como “independente”;
  • a criança busca isolar-se dos demais;
  • a presenta dificuldade durante festas e em ambientes com ruídos.

 

Caso haja uma suspeita de autismo, o médico pode sugerir uma avaliação mais profunda, com a ajuda de uma equipe de especialistas, incluindo neurologista, psicólogo, psiquiatra, fonoaudiólogo ou outros profissionais. É importante uma equipe multidisciplinar para uma avaliação ampla da criança! Estes irão fazer testes e avaliações para ver se os sintomas da criança são de TEA ou de algum outro transtorno/condição. Antes de fechar o diagnóstico de autismo, é importante descartar a presença de outros problemas de saúde, como de audição, que podem causar atrasos no desenvolvimento da fala e outras dificuldades que podem ser confundidas com autismo. Da mesma forma, atrasos no desenvolvimento e outras dificuldades que não são causadas pelo TEA, devem ser tratadas por profissionais especializados. 

Assim, é importante que os pais não hesitem em buscar ajuda quando observarem alguns desses sintomas pois, quanto mais cedo é realizada a intervenção, melhor o prognóstico. Muitos pais se assustam frente a possiblidade de haver algo diferente no desenvolvimento de seu filho. E isso é natural. Sentimentos de medo, ansiedade, negação, angústia são comuns. 

Independente do diagnóstico, quando se trata de desenvolvimento infantil, quanto mais cedo, melhor!!!

 

Fonte: 

Sociedade Brasileira de Pediatria

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